Pessoas LGBTQIAPN+ em privação de liberdade são qualificadas em Costura Industrial
Capacitação, promovida pelo projeto de empregabilidade “Mais Um Sem Dor”, foi realizada na unidade prisional de Goianápolis
Foi realizada ontem (10/2) em Goianápolis/GO a cerimônia de entrega de certificados a 26 pessoas LGBTQIAPN+ que concluíram o curso de Costura Industrial na Unidade Prisional Regional do município - local destinado exclusivamente a pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ que já receberam sentença condenatória. A qualificação faz parte do projeto de empregabilidade “Mais Um Sem Dor”, voltado à capacitação profissional de pessoas em vulnerabilidade socioeconômica.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Anápolis, por meio da Faculdade Roberto Mange, foi o responsável por ministrar as aulas. A capacitação teve carga-horária de 160 horas/aula. Das 26 pessoas que concluíram o curso, dez já estão em regime semiaberto e contam com suporte especializado para ingressar no mercado de trabalho.
No evento, o Ministério Público do Trabalho em Goiás (MPT-GO) foi representado pelo procurador do Trabalho Tiago Ranieri, coordenador do “Mais Um Sem Dor”.
“Por estarem fora do padrão aceito pela sociedade - o heteronormativo -, muitas estão tendo somente agora a oportunidade de serem socializadas. Sequer podemos falar que estão sendo ressocializadas, já que a primeira oportunidade de socialização está ocorrendo agora. Muitas delas foram expulsas de casa por sua condição, o preconceito as impediu de frequentar escolas. E o ‘Mais Um Sem Dor’ vem justamente para tentar preencher essa terrível lacuna, proporcionando oportunidades de aprendizado profissional e formação humana, para que consigam emancipação”, explica.
Capacitação
O “Mais Um Sem Dor” é um projeto de empregabilidade que desde 2018 vem promovendo formação humana, qualificação técnica e encaminhamento ao mercado formal de trabalho de pessoas em vulnerabilidade socioeconômica (pessoas em situação de rua, trans, travestis, mulheres negras, imigrantes, refugiados, quilombolas, mulheres que estão cumprindo pena em regime fechado, entre outros).
Foi criado a partir da união de esforços do MPT-GO e do Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (TRT-GO), com apoio do Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e de Ascoralinas. É custeado por destinações feitas pelo MPT-GO e TRT 18, as quais têm origem em reparações financeiras pagas por empresas que desrespeitam a legislação trabalhista.
Já foram 22 cidades goianas atendidas e cerca de 2,7 mil pessoas qualificadas diretamente, além de outras 10 mil de forma indireta. Mais de 70 empresas parceiras já contrataram e continuam contratando pessoas qualificadas pelo projeto.
Dignidade
A Unidade Prisional Regional de Goianápolis, cidade que faz parte da região metropolitana de Goiânia/GO, é o primeiro local, no estado de Goiás, que abriga exclusivamente pessoas LGBTQIAPN+ que já têm sentença condenatória. Tem capacidade para até 54 reeducandos. Foi inaugurado em março de 2024 e seu objetivo é garantir mais dignidade a um grupo que sofre graves violações de direitos em unidades penitenciárias, o que leva a graves quadros de depressão e até mesmo suicídio.
Fotos: Faculdade Roberto Mange.